Polícia Militar refuta alegações de que criança tenha sido atingida por tiro em Paraisópolis; investigação em andamento
A Polícia Militar (PM) afirmou que os policiais envolvidos preservaram o local e sinalizaram onde projéteis foram encontrados para facilitar o trabalho da perícia. Nenhum agente envolvido será afastado do serviço.
O porta-voz da PM, coronel Emerson Massera, refutou as alegações de que o menino de sete anos tenha sido ferido por um tiro disparado por um policial durante a ação em Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, na manhã desta quarta-feira (17).
Durante uma coletiva de imprensa, o coronel Massera esclareceu que os policiais estavam equipados com câmeras corporais. A análise dessas imagens levou a corporação a concluir que a mãe e o filho não estavam na linha de fogo dos PMs durante o confronto com os criminosos. Eles estavam se protegendo atrás de um carro.
“Com base nas imagens, podemos afirmar que, neste momento inicial, a criança não foi ferida por um tiro de um policial militar. Não podemos determinar a origem exata do ferimento. Pode ter sido um disparo dos criminosos, estilhaços, ou causado por outra razão”, declarou o porta-voz da PM.
Quanto ao vídeo que mostra PMs recolhendo objetos na rua, o coronel Massera explicou que os agentes estavam marcando o local onde os projéteis foram encontrados para facilitar o trabalho da Polícia Técnico-Científica. Ele também enfatizou que o local foi preservado, portanto não há motivo para o afastamento dos policiais.
Durante a operação em Paraisópolis, dois policiais estavam armados com fuzis, enquanto o terceiro carregava uma pistola .40. Segundo o porta-voz da PM, foram encontradas no local 4 cápsulas de fuzil, 7 de calibre .40 e 9 de calibre 9mm, provavelmente disparadas pelos criminosos.
Versão da família O advogado da família do menino relatou que os policiais chegaram de forma agressiva na comunidade, em um horário em que as crianças estavam indo para a escola. O incidente ocorreu na manhã desta quarta-feira (17) na Rua Ernest Renan.
De acordo com o advogado André Lozano, a mãe do menino também informou que “as pessoas começaram a gritar que havia crianças no local para evitar tiroteios”. No entanto, os policiais continuaram a disparar, apesar dos apelos.
A mulher não pôde confirmar se houve realmente um tiroteio no local, mas mencionou que é comum a Polícia Militar “chegar atirando” em Paraisópolis.
“Ela saiu de casa para levar o filho para a escola. Naquela hora, muitas crianças estão na rua. Realizar uma operação dessa natureza com tanta agressividade coloca não apenas a população em perigo, mas especialmente as crianças”, destacou Lozano.
Segundo o advogado, a mãe está bastante assustada e preocupada com o filho, que está internado no Hospital Municipal do Campo Limpo. Não há previsão de alta no momento.
Lozano também afirmou que o menino não corre o risco de perder a visão. “Seu estado de saúde é estável […] Ele tem um ferimento acima do olho, mas não causará danos permanentes”. Segundo a equipe médica, é provável que a criança tenha sido atingida por estilhaços de um projétil.
Posteriormente, a mulher irá à delegacia para colaborar com as investigações e apresentar sua versão dos acontecimentos. A defesa da família também está considerando solicitar uma indenização ao estado.
Registro policial No boletim de ocorrência registrado no 89° Distrito Policial, os policiais envolvidos na ocorrência relataram que foram surpreendidos por criminosos na Rua Ernest Renan, iniciando um tiroteio.
“Durante os eventos, uma criança saiu correndo e estava ferida na cabeça, sendo socorrida pela viatura M16105 para a AMA Paraisópolis e, posteriormente, encaminhada para o Pronto Socorro do Hospital do Campo Limpo. No hospital, foi constatado que o ferimento era superficial e possivelmente causado por estilhaços ou uma queda”, afirma o documento.
Em uma coletiva de imprensa durante a manhã, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que não havia uma operação especial da Polícia Militar no momento do tiroteio e que a criança não foi atingida por um tiro.
“Não houve operação, apenas patrulhamento. Os policiais foram recebidos a tiros, (…) e houve um tiroteio. A criança não foi atingida por um tiro, não foi perfurada. Provavelmente foi atingida por estilhaços, foi prontamente socorrida, está em observação, está bem, passará por uma tomografia. Não houve disparo”, disse o governador.
Recuperação de objetos pelos PMs Vídeos feitos por moradores da comunidade de Paraisópolis mostram policiais militares supostamente recuperando objetos na rua onde a criança de 7 anos foi atingida na manhã desta quarta-feira (17).
Segundo o ouvidor da polícia de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, o registro sugere uma “tentativa muito séria de obstrução da justiça”. Ele planeja solicitar à Corregedoria da PM o afastamento dos agentes envolvidos na ocorrência.
“Eles parecem estar procurando ou recuperando estojos de munição. Isso é extremamente preocupante. Indica uma tentativa muito séria de obstrução da justiça e, por isso, estamos pedindo o afastamento imediato dos policiais envolvidos no incidente e também solicitando à Corregedoria que avalie o afastamento dos policiais que estavam envolvidos nessa tentativa de obstrução da justiça”, declarou Silva.
O G1 questionou a Polícia Militar e a Secretaria da Segurança Pública (SSP) sobre o vídeo, mas não recebeu resposta até o momento desta atualização.
Criança ferida O menino de sete anos foi atingido no olho durante uma operação da Polícia